quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Actualizações 4 - Ida ao Supermercado


Entrei no Supermercado como quem entra num Museu. Para admirar as prateleiras, observar as obras de arte, leia-se os produtos, comparar artistas, neste caso preços. Fiquei fascinada, com a quantidade de coisas semelhantes, mas mais ainda com a quantidade de coisas tão diferentes. Penso nisto com alguma frequência: sei que estamos de lados opostos do Oceano, mas temos a mesma língua mãe e os mesmos antepassados, com algumas variantes é certo, como somos tão diferentes. É lindo e fascinante!
Entrei, então, no Museu-Supermercado, e sentia-me a olhar para as coisas como se nunca tivesse entrado num supermercado na vida. As cores, os formatos, as texturas e quantas coisas que nunca tinha visto á venda, especialmente ingredientes, marcou-me a língua de porco salgada, presunto tudo bem, mas língua de porco salgada (ponto de interrogação e !) Mais á frente as frutas! mesmo as do supermercado cheiram a fruta, que delícia! O pão e os bolos e as bolachas. Os cereais para o café da manhã e o café, delicioso! (Tenho de levar café do Brasil!) Os produtos de higiene pessoal e da casa, que variedade, que embalagens diferentes! E os produtos alimentares, atum, vinagre, azeite e espanto do espanto... azeite Galo!!! a cantar desde 1900 e qualquer coisa também no Brasil, em latas de aluminio, como já não se vendem em Portugal há anos! Lindas de morrer!!! Não fosse ainda ter muitos kilómetros pela frente, juro que comprava uma lata para levar para Lisboa. Os vinhos e as cervejas, as águas e os refrigerantes.
E no fim da visita a este Museu vivo, do modo de viver de um povo, entendemos que a publicidade e o imagem gráfica dos produtos é o que faz mover o mundo, apetecia-me comprar uma embalagem de cada coisa que jamais encontrarei em Portugal. Mas resisti á tentação e saí do Museu, sem sequer passar pela lojinha das recordações, mas com a terrível ideia de lá voltar para comprar pelo menos um pacote de café para oferecer uma xícara aos amigos quando regressar.

Actualizações 3 - O dia em que fui á manif pela Luta pelo financiamento ao teatro e à dança


No dia que cheguei, fui a um ensaio da Companhia onde os meus amigos trabalham e através da qual os conheci em Portugal, quando foram participar num festival. É uma companhia de dança-teatro e têm um trabalho bonito sobre a cidade e sobre a forma como as pessoas se relacionam com a cidade e como o corpo se relaciona com o meio envolvente. Demoraram uns anos a afirmarem-se, como qualquer outra companhia. Bem, no Brasil, como também em muitos outros países as lutas com os governos sobre direitos dos trabalhadores, acesso á cultura e apoio á arte, são feitas nas ruas, com manifestações e palavras de ordem, cartazes e muito barulho.
Logo depois do ensaio (no dia em que cheguei), os integrantes da companhia falavam sobre a passeata que ía acontecer na segunda feira seguinte, interessei-me pela coisa e perguntei sobre o que se tratava, então ao que parece o Perfeito da cidade de São Paulo (que é a quem compete atribuir financiamento a quem produz ou tenta produzir arte e cultura) resolveu modificar a Lei do Fomento á Dança e ao Teatro. Assim sendo os artistas-bailarinos-actores-coreógrafos-encenadores-produtores-trabalhadores de teatros juntaram-se para lutar contra aquilo que acreditam ser um desrespeito pela classe, pela arte, pela cultura e pelo povo Brasileiro enquanto público. Pareceu-me bem! Para mais também sou actriz, tornei-me solidária acto imediato e decidi ir também á passeata (manifestação em Português de Portugal).
E fui. Mesmo com o aviso de que a coisa podia meter policia, na pior das hipóteses teria de correr e fugir ou fingia-me uma turista apanhada no meio da multidão ou então vestiria a camisola e lutaria, afinal se sou actriz deve servir para alguma coisa tantos anos de improvisação e de Teatro do Oprimido.
Chegámos (eu e o meu amigo da Companhia Artesãos do Corpo), sentimo-nos um pouco desiludidos, estava meia dúzia de gatos pingados; bem, talvez não meia dúzia, mas não eram mais de 30 pessoas de certeza... é pouca gente para uma passeata. Havia alguns cartazes, e pessoas a encherem bexigas (balões em Português de Pt), mas nada significativo. Aos poucos lá foi chegando mais gente, uns sozinhos outros em grupo, uns com cartazes, outros com apitos, e um grupo cheio de batuques e tambores e um cabeçudo! Uau! que lindo!!! e um carro com microfone e colunas poderosas!!! eheheheh! afinal a coisa vai pegar!
Hora marcada, 10h30 da manhã, em frente ao Teatro Municipal, saída para a Prefeitura de São Paulo, uma rua mais á frente (nova desilusão, pensava eu que ia conhecer um pouco de São Paulo numa passeata pelo fomento ao teatro e á dança...), mas valores mais altos se levantam e a voz também, porque o Perfeito tem de saber que chegámos e aquilo por que lutamos!!! Gritamos, apitamos, batemos palmas e batuques e tambores e cantamos e faz um calor...
O representante da manifestação é recebido e entra na Prefeitura (achei bonito, mas só depois fiquei a saber que tinha uma reunião marcada). Segue-se a espera para saber o resultado da reunião. Entre calor, uma dentada numa maçã, água, livros oferecidos e vontade de fazer xixi, mantive-me fiel a esta manifestação que trava uma luta que não é minha, mas que eu sentia como tal e na verdade era como se fosse. A Cultura é universal, é o que nos liga ao Mundo, é o que nos liga ao Humano, é o que nos liga aos Outros, assim sendo, Sim é uma luta também minha e mantenho-me aqui a fazer barulho, para que o Kassab (prefeito de São Paulo) saiba que os artistas de São Paulo estão unidos e que lutarão mesmo depois que a voz lhes doa!!!

Chega de Baixaria! Cultura não é Mercadoria!

O representante vem á janela e acena para o grupo que devia ser de 200 ou 300 pessoas (sou péssima com números), não percebi muito bem o que significava aquele gesto, mas voltei a fazer barulho como todos, de novo, depois de um breve esmorecimento. E de repente o representante está cá em baixo á minha frente a dizer que a reunião tinha corrido bem, e uma multidão de gente a formar-se à minha volta, e o senhor de microfone na mão a explicar o que tinha acontecido, as coisas com as quais o Perfeito tinha concordado, as outras com que não (e eu sem perceber nada do que ele estava a falar), mas que no fim tinha tido um balanço positivo e que agora tinham de entregar não sei o quê, não sei onde e que ia ser uma marcada uma nova reunião com não sei quem, não sei quando.
E pronto, é isto. (pensei eu na minha ingenuidade) Vamos embora. Não!!! Vamos á Galeria Olido, continuar a passeata, porque vão lá ser recebidos também por náo sei quem (acho que era uma espécie de secretário de estado-vereador da cultura). Viva! Afinal a passeata continua. Mas não por muito tempo, nesta cidade enorme estas coisas são todas umas ao lado das outras (ponto de interrogação). Ficámos na entrada, é um prédio grande, que no piso térreo tem uma galeria onde há um banco, um balcão de turismo e outras coisas, mas o importante é que ficámos na rua uns minutos, até que começamos a invadir aquele espaço que há partida só acolhe actividades (culturais e artísticas) programadas. Senti-me a infringir a lei, que nem era a lei do meu país, que eu nem sabia se era lei ou não, mas sentir-me a quebrar esta regra foi delicioso. Fizémos muito barulho, batucou-se, cantou-se, apitou-se, dançou-se e aquele espaço era nosso. e voltámos a esperar, muito. Mais uma reunião. E finalmente, o resultado chegou, não percebi nada (tinha fome, sede e ainda muito xixi - já não conseguia concentrar-me), apenas senti que as pessoas não estavam contentes, que não tinha tido os resultados que elas queriam e estavam a convocar uma reunião extra-ordinária da Cooperativa (aqui os artistas tem uma cooperativa, uau!!!). Ficou marcada. Eles vão. Eu não. Já fiz a minha parte, não estou aqui a trabalho, estou de férias, já está de bom tamanho a minha participação enquanto artista nesta luta política do lado de cá do Oceano.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Actualizações


Em São Paulo, chove! Chove como eu nunca pensei que fosse possível chover num país como o Brasil. São Paulo está inundada, zonas em derrocada constante, estradas fechadas, pessoas desalojadas e a TV em alarmismo total, sem nunca esmiuçar o porquê disto estar a acontecer: o lixo desta cidade!!! é impressionante o lixo que esta cidade produz!!! e o lixo que as pessoas desta cidade produzem!!! o lixo entra para os canais dxe escoamento e entope tudo, a perfeitura faz algumas campanhas de sesibilização, mas parece que não é o suficiente, ninguém liga, ninguém faz caso e tudo continua a ser atirado para o chão, desde a caixa de sapatos das lojas, até ás pontas dos cigarros, passando pelos caroços dos milhos que se vendem por toda a cidade, os papéis dos sorvetes, latas de regrigerantes e cervejas, pacotes de batatas fritas e de salgados, há de tudo e para todos os gostos. Na verdade o lixo não é muito diferente do que noutras cidades, capitais até europeias, mas a questão aqui prende-se muito com a quantidade de pessoas que habitam esta cidade e consequentemente o lixo que fazem. Os resultados são obviamente desastrosos, todos os dias as noticias passam imagens incriveis sobre casas inundadas, ruas intransitáveis, bairros alagados, estradas que ruiram, morros que desabaram, pessoas que morreram, mas nem assim as coisas mudam, nem assim as pessoas mudam, nem assim mudam as atitudes.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Actualizações 2 - O Show do Ney Matogrosso


Bem, na realidade o show não era dele, era com participação especial do Ney Matogrosso, mas de repente só se ouvia, vais ver o Ney logo (ponto de interrogação, que não existe neste computador, coisas de quem viaja, tem de habituar-se ao que há)voltando ao Ney, o show era de uma cantora brasileira que se chama Alzira (não sei se alguém conhece) simpática, com uma musicas interessantes (não sei se já repararam que quando não sabemos muito bem definir uma coisa dizemos que é interessante)e bom, lá fui eu para o show da Alzira com esta coisa de show do Ney!

Entrámos, sentámo-nos, baixam as luzes, a banda entra, palmas, começam a tocar, Alzira entra, palmas, começa a cantar , palmas continuam até baixar de intensidade e acabarem por completo. Curte-se o som, a música, as luzes, a energia, até que entra o Ney... apoteose... palmas, uivos de alegria ecoam pela sala e é uma espécie de nem sei quê de energia que se liberta de todos os corpos, sem diferenciação de sexo, raça, idade ou condição social. O Ney começa a cantar e as palmas param em consonância com a voz do cantor em sinal de reverência, afinal de contas é o Ney Matogrosso que ali está, a cantar para nós e de repente aquele momento torna-se mágico e o silêncio é sepulcral, de respeito e de prazer. E que prazer! as lágrimas caíram-me dos olhos, não de tristeza, não de alegria, não de melancolia, não sei de quê, talvez de prazer! talvez de libertação! talvez da beleza do momento! e levantei-me e dancei (não se podia, mas eu não sou daqui e eu sou livre!), dancei e chorei, que libertação!

Terminou o concerto e voltei a casa, cheia, cheia de música no corpo e na alma, cheia de coisas e energias boas e cheia de vontade de continuar a viver estas coisas que me fazem sentir viva e fora da rotina em que nos deixamos cair dia após dia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ser brasileira!

Oi gente!!!

Tudo legal? Tudo em cima? Tudo bacana? Beleza?

Por aqui tudo em cima! Calor, muito, mesmo.

A vida corre nesta Babilónia que é São Paulo, o tempo passa depressa e parece que estou aqui há 3 semanas, já falo com sotaque e até uso expressões erradas, que fazer? Em roma sê romano, no Brasil sê brasileira, não tem jeito.

Logo à noite, festa de forró!!! depois relato!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Notícias do Brasil


Não sei muito bem o que escrever. Estou em São Paulo há pouco mais de 24 horas e já fiz tanta coisa, ou pelo menos mais do que aquilo que eu contava fazer quando chegasse.
Está calor e chove, mas nem isso me impede de andar de chinelo de dedo no pé, é uma sensação maravilhosa, parece novela! e o café da manhã? com fruta a saber a fruta e café fresquinho acabado de passar (com sotaque) ahahah

Ontem fui a um ensaio de uma companhia de dança, hoje tenho uma palestra sobre o tempo e arte e amanhã uma festa do milho, onde vou aprender a fazer pamonha. Um amigo comprou um ingresso para ir ver Ney Matogrosso na próxima semana e ao almoço bebi suco de caju e comi feijão com arroz.

Acho que finalmente começo a acreditar que aqui estou, em pleno Brasil, de férias, em descoberta do mundo, das pessoas e também de mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

De mala quase feita


Há quase duas semanas que me perguntam: então, já fizeste as malas?
Pergunta à qual respondia: ainda não. Ainda nem mala tenho.

Hoje a resposta é: sim, já comecei a separar cuecas, soutiens e meias (poucas que no Brasil, não creio que vá precisar de muitas meias e muito menos quentes como as que uso hoje em Lisboa), fato de banho (imprescindivel), t-shirt's (algumas), calças, saias, vestidos, camisolas mais quentitas para uma noite mais fresca ou para a humidade da amazónia (quem sabe?), gel de duche, shampô, óleo de corpo, creme de cara, protector solar, repelente, os sacos de medicamentos, desodorizante (que fui comprar há pouco com a Leonor, depois de um jantar de despedida no japonês de odivelas), os chinelos de dedo que estão a precisar ser substituídos (mas nada melhor que esperar por chegar a São Paulo para me perder num mercado), máquina fotográfica, pilhas e carregador (que a Sara me emprestou), creme para os pés, e giletes e o saco cama (nunca se sabe onde terei de dormir), uma toalha de banho hiper condensada em polar (oferta da Carminho) e a webcam para poder comunicar com o mundo (presente especial da Marta). Comigo levo também os sorrisos, os abraços, os beijos e o carinho dos meus amigos. Ah! e a escova de dentes (em tamanho reduzido, oferecido pela minha querida Sucas), a pasta e o pente. Boa disposição e vontade de conhecer o mundo e pessoas! Acho que não esqueço nada! Também levo uns pézinhos de lã, para as noites em que os pés arrefecem... ou para quando as saudades apertarem.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Para não me esquecer


Não sei como nem porquê, a poucos dias de viajar para o Brasil, o meu mundo está a ser povoado de fados.



Deve ser para não me esquecer das origens...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Faltam 7 dias


Mais uma vacina. A ultima.
Acho que começo a sentir um frio na barriga, de cada vez que penso que falta menos um dia para esta abençoada loucura.
Não posso esquecer de comer farinheira cozida antes da partida!

domingo, 3 de janeiro de 2010